As atrizes conversam sobre fama, ídolos, carreira e preconceito
As atrizes contam como entraram na profissão e falam sobre preconceito.
É difícil definir o momento no qual o ator se percebe como tal. “Não sei se me descobri até agora”, comenta, bem-humorada, Rosamaria Murtinho. Quase sempre o ofício se constrói com os próprios trabalhos. “E quando a gente envelhece é que começa a melhorar”, acrescenta Helena Ranaldi. Juntas, as atrizes celebram o fim do preconceito contra quem decide seguir a carreira artística, mas alertam: não dá para se manter na profissão apenas seguindo o apelo da fama.
Veja trechos do encontro de Rosamaria Murtinho e Helena Ranaldi
Rosamaria Murtinho – O que é ser atriz? Na verdade, te convidam e você trabalha. E depois você entra num roldão e fica difícil sair. Mas não fico pensando muito se eu sou uma atriz. Não se se descobri até agora (risos). A Cacilda Becker dizia que isso era um ofício. E logo ela, que quando começou, todo mundo dizia que não seria atriz. E, entre essas pessoas, o Ziembinski. Então tudo é muito relativo.
Helena Ranaldi – Sempre tive profundo prazer em atuar. Mesmo antes de saber que estava atuando ou que isso seria uma profissão. Durante toda minha infância, adolescência e juventude eu representava sozinha. Ia para o quarto ou o banheiro e fazia figurino, maquiagem, uma cena!
RM – Olha que coisa bacana! Isso nunca aconteceu comigo. Eu nunca quis representar. Queria ser bailarina. Um dia, faltou uma atriz no grupo do meu irmão, o Studio 55, e ele disse ao Paulo Francis, que dirigia, para me pôr em cena. E nunca mais parei.
HR – Mas eu também não imaginava representar como profissão, por não ter ninguém próximo no meio artístico. Até que chegou uma hora em que isso falou mais alto. E lá fui eu estudar com o Antunes Filho. E depois é como você diz, as pessoas te convidam e é difícil sair.
RM – Agora é muito mais difícil começar.
HR – Também acho.
RM – Hoje tem muito mais gente querendo ser atriz. Quando eu era moça havia um preconceito muito maior. Como a Fernanda Montenegro diz, homem era bicha e mulher, prostituta.
HR – Isso foi completamente superado. Atualmente tem glamour em ser ator.
RM – Mas também é a possibilidade de as pessoas terem uma vida melhor através da arte. Isso é fantástico.
HR – Ao mesmo tempo, tem muito gente que escolhe a profissão pela fama.
RM – E o pior é que acredita. Isso é terrível.
HR – É, as pessoas se iludem. É o ego. Vou ser muito sincera: acho muito chata a fama.
RM – A fama vem porque é inerente à profissão. Por isso nunca esnobo um fotógrafo.
As atrizes ainda comentam sobre o trabalho no teatro e a recepção com o público.
HR – O que incomoda no paparazzo é ele trabalhar escondido. É invasivo. É bom quando um fotógrafo se apresenta a você. Isso é de uma delicadeza incrível, e que não existe mais.
RM – A meninada quer o gossip, a fofoca. O lance amoroso, quem tá namorando quem. Isso é um lance que vende revista. Isso é que pode incomodar. Mas na minha idade, não estou nem aí. Agora, acho que não deveria haver crítica, mas comentaristas, como era na China. A crítica é antidialética. Você não pode botar um ponto final nas coisas. Um dia, o espetáculo sai lindo. E vai que amanhã ele não saia tão bem.
HR – Normalmente a crítica vai ao teatro no início da temporada, o que é cruel. É o dia mais tenso, o primeiro momento em que você está mostrando o trabalho. Mas o espetáculo ganha muito com tempo.
RM – Eu nunca estou pronta na estreia. Só duas semanas depois. Tanto que digo à minha família para não ir no primeiro dia, porque vou errar tudo, não vai dar ritmo. Eu sou lenta! É como no balé. É impossível o coreógrafo passar o balé inteiro aos bailarinos. Ele vai aos poucos, aos trechos.
HR – Seria interessante se tivéssemos mais crítica, mais pluralidade de opiniões. Cada espectador reage de uma maneira.
HR – E quando a gente envelhece é que começa a melhorar (risos). Quando mais se trabalha, maior é a experiência. Vai ficando mais segura...
RM – Segura e corajosa. Se uma atriz não se arrisca, ela não pode ser considerada uma atriz.
O bacana dessa profissão é que você pode e deve arriscar. Na nova versão de “O Astro”, gostei porque fiz um papel bem diferente.
HR – Gostaria mesmo era de fazer um ciclo com as peças de Nelson Rodrigues.
RM – Agora quero fazer uma prostituta, dessas que guardam dinheiro no decote. Está faltando uma dessas que abra os braços, que ria muito, seja alegre, que viva mesmo. Acabei de fazer a quietinha que não abria a boca com medo, a travada, a mal-amada. Agora quero a prostituta!